Gravura de George Richmond retratando Charles Darwin jovem, próximo de 1830. |
* O Diário do Beagle, Darwin no Brasil, 3 de julho de 1832
Por Deni Lineu Schwartz Filho e Maristela Zamoner
Aos 23 anos de idade, o jovem Charles Darwin esteve no Brasil e
registrou suas impressões em seu diário. A frase que intitula este pequeno artigo
foi escrita quando esteve no Rio de Janeiro, e não passou imperceptível aos
seus olhos a relação que o brasileiro construiu e solidificou com a corrupção. O
naturalista registrou:
Não importa o tamanho das acusações que
possam existir contra um homem de posses, é seguro que em pouco tempo ele
estará livre. Todos aqui podem ser subornados [...]
Quase 200 anos depois a frase não poderia ser mais atual. Uma análise
mais profunda, entretanto, torna inevitável a constatação de que em alguns
aspectos houve ainda mais degradação, concretizada pela institucionalização da
corrupção. Se antes a propina abastecia bolsos individuais, hoje, a decadência
está mergulhada em grandes organizações legitimadas e incrustradas nos poderes.
Se antes uma pessoa sabia onde estava o limite do que era correto e do que não
era, hoje esta consciência não é mais tão clara. Muitos se consideram distantes
da corrupção, mas o sistema todo impede qualquer alienação. E aí mora uma
ameaça dolorosa à esperança. Estacionamos no status de um país terceiro-mundista corrupto, uma república de musáceas
com a terra da cleptocracia à vista.
O menino Darwin, de olhar tão aguçado, já naquele tempo percebeu a
relação entre posse e injustiça, que nos permite a leitura de legalização da
corrupção. Há uma proporção entre moeda e degradação que torna a corrupção permeável
a praticamente todas as camadas da sociedade. Raízes profundas, ramificadas desde
a radícula de um delito de transito e um policial subornado até os eventos que
revelam o envolvimento das mais elevadas cortes, incluindo as que vestem os
mantos de guardiãs da sabedoria e da retidão.
A ONG Transparência Internacional - TI, divulgou o ranking de percepção
da corrupção de países do ano de 2016 e o Brasil revela ainda estar em um
processo de piora, uma vez que é percebido como mais corrupto do que ele mesmo em
avaliações anteriores. Isto significa que ainda estamos decaindo nesta seara.
Fica o desafio, quando vamos fazer com que as percepções de viajantes
em visita a um Brasil colonial tornem-se concepções superadas?
Saiba mais
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Darwin, Charles. O Diário do Beagle. Tradução de
Caetano Waldrigues Galindo. Editora UFPR. Curitiba. 2006.
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ONG Transparência Internacional - https://www.transparency.org/