Estréia do vídeo "Divisões da Ecologia" prevista para o dia 30 de abril, 19h
O vídeo mostra os níveis de organização ecológica. Inicialmente no âmbito do indivíduo: átomos, moléculas, organelas, células, tecidos, órgãos, sistemas, organismo. E em seguida, no âmbito propriamente ecológico: populações, comunidades, ecossistemas e biosfera.
Aprenda rapidamente quais são as mais tradicionais divisões da ecologia são: autoecologia, demoecologia e sinecologia.
A autoecologia concentra o estudo em um organismo individual ou em uma espécie e sua relação com o ambiente.
A demoecologia, também conhecida como ecologia ou dinâmica das populações, avalia isoladamente as populações de determinadas espécies considerando densidades, tamanhos, dinâmicas e distribuições no tempo e no espaço.
A sinecologia, ou ecologia de comunidades, aborda grupos de organismos de várias espécies associadas. Existem diferentes abordagens para a sinecologia, como a descritiva (descreve grupos) e a funcional (estuda funções de grupos).
Agora veremos exemplos de cada uma delas, obtidos da prática profissional da autora.
O primeiro, é um estudo de autoecologia, no qual uma espécie de borboleta teve seu ciclo estudado no ambiente, reunindo informações sobre sua alimentação em fase adulta, comportamentos como rituais de acasalamento, oviposições e sua planta hospedeira.
A demoecologia é exemplificada por uma avaliação que mostra variações de abundância populacional de uma espécie ao longo de um ano e sua distribuição no espaço.
Exemplifica-se a sinecologia descritiva com um estudo que revela a composição de diferentes grupos formadores de uma comunidade, suas abundâncias e outros fatores como a distribuição espacial.
Já a sinecologia funcional é exemplificada por um estudo no qual quatro espécies de borboletas cujas fases larvais consomem a mesma planta hospedeira, foram estudadas quanto a preferência das estruturas vegetais para oviposição.
O vídeo explica em poucos minutos o conceito de Ecologia. Parte da origem etimológica da palavra, eco (oikos) que remete a casa, neste caso ao planete, e logia (logos) que abrange a ideia de estudo, conhecimento. Importantes pensadores da área são trazidos a pauta, como Haeckel, Humboldt e Odum. Os fatores abióticos (ambientais, como água, ar, nutrientes, luz e sol) e bióticos (seres vivos, como plantas, animais, fungos e microrganismos) são tratados como fundamento para compreensão do conceito de ecologia como ciência que os relaciona no escopo do estudo da estrutura e do funcionamento da natureza, considerando a humanidade como parte dela.
Olá, sejam bem-vindos ao canal da Casa do Biólogo!
Meu nome é Maristela Zamoner e trago agora para vocês uma breve apresentação dos estudos que resultaram no livro Xerimbabo, fauna, história e Patrimônio Cultural.
A ideia deste estudo surgiu em 2016, quando eu cursava duas pós graduações ao mesmo tempo,
uma em História e Antropologia e outra em Direito Ambiental.
Formada em Biologia, já especializada em Educação Ambiental e mestre em Zoologia,
quis desenvolver as pesquisas para as duas monografias na área de fauna, interligando os conteúdos das duas pós-graduações, mas não tinha clareza de como conduzir esta caminhada.
E foi durante um café da manhã com seu marido, Deni Lineu Schwartz Filho, que ouvi dele sobre a publicação do 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre da Rnectas, ONG dedicada a combater o tráfico de animais. Esse documento trazia a pauta a questão do xerimbabo, animal da fauna silvestre mantido como de estimação pelas populações tradicionais em suas aldeias indígenas.
Naquele momento percebemos que o estudo da temática do xerimbabo tinha potencial para unir conteúdos técnicos de zoologia, história, antropologia e Direito Ambiental.
No âmbito da História e Antropologia a pesquisa abrangeu os significados do termo xerimbabo desde sua origem Tupi-Guarani até a atualidade. Fez parte desta pesquisa a análise de textos reveladores das relações afetivas entre indivíduos das populações tradicionais do Brasil com diferentes espécies animais e os conhecimentos envolvidos na prática dessas relações, conhecimentos esses, passados de geração a geração. Alguns extratos preciosos foram encontrados. Notemos este de JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES. Na obra O selvagem. Do ano de 1876.
Quem visita uma aldeia selvagem visita quase que um museu vivo de zoologia da região em que está a aldeia; araras, papagaios de todos os tamanhos e cores, macacos de diversas espécies, porcos, quatis, mutuns, veados, avestruzes, seriemas e até sucurijus, jibóias e jacarés já tenho visto nestas aldeias onde são alimentados pelos selvagens com acurada paciência. O xerimbabo do índio (o animal que ele cria) é quase uma pessoa de sua família.
Os textos históricos mostraram conhecimentos e hábitos humanos envolvendo as relações com a fauna, passados de geração a geração, deste as populações tradicionais até a atualidade.
São formas de expressão humana, são modos de criar, fazer e viver das populações tradicionais que se integraram à cultura brasileira. Este estudo avançou para conteúdos da iconografia histórica e foi possível reunir registros que ilustram esta relação afetiva, revelando a profundidade cultural da prática de manutenção de animais da fauna nativa como membro familiar, uma relação que demonstra nitidamente expressões e modos de criar, fazer e viver das nossas populações tradicionais.
Na pós-graduação em Direito Ambiental abriu-se o cenário conceitual do Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, sua importância, bem como a relevância de práticas sustentáveis e do bem estar animal.
A Carta Magna apresenta o Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão
II - os modos de criar, fazer e viver
O estudo completo demonstrou que a relação afetiva entre o xerimbabo, como componente da biodiversidade nacional, e o humano, é forma de expressão cultural, é modo de criar, é modo fazer e é modo viver.
Demonstrou-se ainda, que é imprescindível o embasamento além da zoologia, abrangendo a interconexão técnica entre as áreas da História, da Antropologia e do Direito Ambiental. O conhecimento de apenas uma destas áreas isoladamente, é insuficiente para subsidiar seriamente este estudo.
...a prática do xerimbabo tem, portanto, atributos de patrimônio cultural imaterial, uma vez que:
- depende de saberes específicos sobre modos de criar, fazer e viver, e
- como bem de natureza imaterial, porta referência à identidade, à ação, à memória
de grupos tradicionais indígenas formadores da sociedade brasileira.
Para preservação da cultura imaterial do xerimbabo, conclui-se que é pertinente a proposição de seu registro no Livro de Registros de Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), uma vez que sua sobrevivência depende da preservação de conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades multiculturais brasileiras.
As duas monografias, uma em História e Antropologia e outra em Direito Ambiental se complementaram revelando a relação entre a fauna, a história cultural de nossos povos tradicionais e o arcabouço legal brasileiro definidor do nosso Patrimônio Cultural Imaterial.
Na produção do livro foi acrescido um novo capítulo sobre a relação das populações tradicionais do Brasil e a fauna sob o olhar do bem estar animal e da sustentabilidade.
O livro foi prefaciado por Deni Lineu Schwartz Filho, que afirma...
Poucos relatos registram a criação de animais pertencentes a nossa fauna nativa para fins alimentares, o que explicaria o país mais biodiverso do mundo, o Brasil, possuir apenas uma espécie nativa de animal considerada como doméstica (Cairina moschata).
Paradoxalmente, desde sua chegada os europeus registraram vastamente a marcante presença de animais cativados nas aldeias indígenas brasileiras.
Assim, estabelecia-se relação de afetividade entre indígenas e papagaios, araras, maritacas, jacus, mutuns, macacos, tatús, caititus, antas, quatis, jaguatiricas, cachorros do mato e mesmo invertebrados como as nossas abelhas sem ferrão (Meliponinae).
A cultura indígena de manter animais nativos como xerimbabos foi amplamente assimilada por grupos humanos de diversas partes do planeta. Entretanto, no Brasil esta cultura não recebe a valorização merecida...
Enquanto isso, a maioria dos países desenvolvidos cria, e até domestica, muitas das nossas espécies em grande escala. Nesse processo perdem-se nossas raízes culturais, o conhecimento precioso guardado por populações indígenas e a oportunidade de entender e conservar nossas espécies.
Há muito se faz necessário resgatar e documentar nossas raízes culturais no tocante à relação entre os povos pré-colombianos e a extraordinária e inigualável fauna nativa. Com esse intuito a autora se debruçou sobre os relatos dos grandes naturalistas, mostrando que a relação afetiva entre humanos e animais de estimação da fauna nativa é antiga.
Além de resgatar valores culturais, a presente obra é ainda muito oportuna, afinal, a cada dia se amplia o reconhecimento da importância tanto da preservação da fauna nativa, quanto do papel dos animais de estimação para qualidade de vida humana.
Leis não moldam costumes, os costumes definem as leis.
Assim, livro abre a discussão sobre um importante desafio:
Como harmonizar os aspectos culturais, os costumes, com o uso sustentável e a conservação da biodiversidade?
O livro está livremente disponível para ser baixado pela internet, no portal da Comfauna Livros.