Por Maristela Zamoner, agradecendo a Carlos Eduardo Zikan pela inspiração deste texto.
Acredito que seja cultural. Nossa história com a lepidopterologia estabeleceu paradigmas de coleta, e acabou por fixar no imaginário de muitas pessoas a ideia de ser a única forma "séria" de estudar esta fauna. A rede entomológica acabou se tornando um símbolo de quem estuda borboletas, e é ostentada por alguns como um troféu. E ela tem mesmo muita importância, afinal, nos trouxe até aqui em termos de conhecimento. Também até pouco tempo as alternativas às coletas eram muito restritas.
Todo avanço tem sim um custo e aponta para desafios que, no início, parecem intransponíveis. Todo avanço provoca manifestações de oposição e resistência, super importantes para seu próprio aprimoramento e viabilização. Mas está mais do que na hora de começarmos a conhecer a vida imersa no que restou dos ambientes naturais hoje tão pressionados, já temos tecnologia para esse… atrevimento.
Fotografias de borboletas e seus ovos, todas obtidas em campo, sem a sua retirada da natureza
É inteligente a configuração de uma sociedade que garanta espaço seguro e digno para a experimentação do diferente, liberta de qualquer forma de xenofobia, mesmo havendo a óbvia necessidade de ajustes.
Pesquisadora fotografando ovo de borboleta em campo.
E não significa, em hipótese alguma, que os métodos tradicionais devam ser eliminados. Mas sim que é urgente começar a pensar com parcimônia, gentileza e generosidade quando estamos diante da fortaleza frágil da natureza para estudá-la.
Equipamentos demonstrativos de metodologia destrutiva - coleta, sacrifício e armazenamento definitivo em coleções físicas tradicionais.
Afinal, já está na hora de olharmos seriamente para métodos de pesquisa que não se definam numa senda "extrativista". Vivemos um tempo no qual as tecnologias oferecem bases para se estabelecer novos rumos. Nós, pesquisadores, e aqui incluo com a mesma dignidade e valor os profissionais e os cidadãos, temos um compromisso vital com as próximas gerações, de não nos afirmarmos como mais uma forma de pressão negativa contra a biodiversidade.
É quem fotografa a vida na natureza que está mostrando ser possível este avanço para lepidopterologia. E está escrevendo um capítulo inédito nessa longa história. Que não tem volta. Por isso, o equipamento fotográfico merece ser incluído entre os símbolos do lepidopterologista, como nos ensinam os ornitólogos da atualidade. Ele é digno de orgulho e merece ser carregado como um troféu científico sim, pois é uma conquista para toda a humanidade.