Foto: Maristela Zamoner, obtida em campo. Direitos reservados. |
Quando se pensa em um jardim de borboletas, o que vem a mente de início é: flores capazes de atrair adultos. E de fato não faltam dicas em revistas, blogs, vídeos e outras mídias sobre quais plantas cultivar para este fim.
Em geral o foco dos jardins de borboletas é este. Entretanto, conceber um jardim para borboletas pode ter diferentes objetivos:
1. Observação de adultos se alimentando em flores.
2. Observação de adultos em diferentes fontes alimentares como flores, frutos, líquidos, fezes e outros.
3. Observação de um ou mais ciclos de vida de borboletas.
4. Conservação de borboletas e natureza.
Estes objetivos foram colocados em um grau crescente de complexidade. Todos são válidos, mas diferem em sua essência e em seu papel perante o cuidado mais profundo com a natureza.
Jardins feitos para observação de adultos não precisam ter a preocupação com plantas nativas ou exóticas ou com áreas de conservação. Podem ser concebidos apenas com dois critérios: espécies vegetais que atraiam adultos e estética. E mesmo estes jardins, podem ser criados com uma composição florística capaz de atrair maior ou menor variedade de borboletas.
Quando se almeja com um jardim a atração de guildas diferentes de borboletas adultas para alimentação, nectarívoras e frugívoras, além das flores é necessário prever espaços para oferta de frutas ou atrativos feitos delas.
Já os jardins que, independente de visarem atrair ou não adultos para alimentação, almejam favorecer a observação de ciclos de vida completos, são um pouco mais especializados. Nestes casos é aconselhável um estudo prévio das espécies de borboletas e das plantas hospedeiras que ocorrem no local, para manejar o cultivo dos vegetais adequados a fim de favorecer a observação de oviposições e fases larvais.
No nível mais elaborado de criação de um jardim de borboletas temos o desejável objetivo de conservação. Neste caso é necessário que parte do ambiente definido para o jardim seja destinado a preservação de vegetação nativa – que muitos chamam de mato, mesmo que seja reconstituído. Também é possível conceber um jardim dessa natureza adjacente a áreas de preservação. Neste caso, as áreas preservadas serão o sustentáculo vegetal de espécies de borboletas que poderão ser observadas se alimentando em fases adultas nas flores plantadas para este fim e também se reproduzindo em diferentes plantas nativas. Este tipo de jardim tem potencial inclusive para prática mais profunda de ciência cidadã ou mesmo pesquisa científica. Entretanto, é preciso quebrar paradigmas para desejar um jardim assim, pois a ideia corrente é que, de modo geral, mato precisa ser roçado.
Na sequência veja diferentes espaços que um jardim de borboletas com objetivo de conservação pode comportar:
- Espaços de alimentação de adultos:
· Com flores atrativas, preferencialmente de ocorrência local;
· Com frutos ou compostos deles feitos;
· Com sais, como nos areais úmidos onde são observados os panapanás, nos quais muitas borboletas se reúnem;
· Com líquidos e fezes de aves e outros animais.
- Espaços de alimentação de fases jovens:
· Com plantas hospedeiras de ocorrência no local, plantadas para este fim.
O planejamento em relação a presença de aves e outros animais é muito importante, pois a presença de suas fezes pode ser conveniente para complementação nutricional de borboletas adultas. Então é interessante conhecer previamente as espécies locais de aves, de outros animais e a natureza de suas interações com as borboletas. A partir deste conhecimento avalia-se a escolha de atrativos voltados para aquelas aves, ou aqueles animais, que não sejam predadores e ao mesmo tempo possam enriquecer o ambiente com suas fezes.
Existem muitas formas de compatibilizar a estética com objetivos de conservação, que o planeta tanto precisa, já que nossas áreas naturais estão tão impactadas e continuam sendo reduzidas. Jardins concebidos para preservar parte da vegetação nativa não precisam, por isto, perder em estética, precisam sim de pensamentos inovadores, comprometimento com a proteção da natureza e criatividade.
Às vezes, simplesmente administrar roçadas mais parcimoniosas em determinados locais pode fazer este papel. E quando pensamos em escala, muitos jardins neste perfil sendo providenciados pelas pessoas em suas casas, começamos a imaginar resultados surpreendentes para a conservação, que vão bem além das borboletas, avançando para proteção e, ou, recuperação de seus ambientes.
A criatividade e o objetivo de quem cria um jardim de borboletas é o que define sua beleza e seu papel potencial para conservação, que nosso planeta tanto precisa.
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