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sábado, 5 de setembro de 2020

Jardins de borboletas e conservação

 

Foto: Maristela Zamoner, obtida em campo. Direitos reservados.

Quando se pensa em um jardim de borboletas, o que vem a mente de início é: flores capazes de atrair adultos. E de fato não faltam dicas em revistas, blogs, vídeos e outras mídias sobre quais plantas cultivar para este fim.

Em geral o foco dos jardins de borboletas é este. Entretanto, conceber um jardim para borboletas pode ter diferentes objetivos:

 

1.  Observação de adultos se alimentando em flores.

2.  Observação de adultos em diferentes fontes alimentares como flores, frutos, líquidos, fezes e outros.

3.  Observação de um ou mais ciclos de vida de borboletas.

4.  Conservação de borboletas e natureza.

 

Estes objetivos foram colocados em um grau crescente de complexidade. Todos são válidos, mas diferem em sua essência e em seu papel perante o cuidado mais profundo com a natureza.

Jardins feitos para observação de adultos não precisam ter a preocupação com plantas nativas ou exóticas ou com áreas de conservação. Podem ser concebidos apenas com dois critérios: espécies vegetais que atraiam adultos e estética. E mesmo estes jardins, podem ser criados com uma composição florística capaz de atrair maior ou menor variedade de borboletas. 

Quando se almeja com um jardim a atração de guildas diferentes de borboletas adultas para alimentação, nectarívoras e frugívoras, além das flores é necessário prever espaços para oferta de frutas ou atrativos feitos delas. 

Já os jardins que, independente de visarem atrair ou não adultos para alimentação, almejam favorecer a observação de ciclos de vida completos, são um pouco mais especializados. Nestes casos é aconselhável um estudo prévio das espécies de borboletas e das plantas hospedeiras que ocorrem no local, para manejar o cultivo dos vegetais adequados a fim de favorecer a observação de oviposições e fases larvais. 

No nível mais elaborado de criação de um jardim de borboletas temos o desejável objetivo de conservação. Neste caso é necessário que parte do ambiente definido para o jardim seja destinado a preservação de vegetação nativa – que muitos chamam de mato, mesmo que seja reconstituído. Também é possível conceber um jardim dessa natureza adjacente a áreas de preservação. Neste caso, as áreas preservadas serão o sustentáculo vegetal de espécies de borboletas que poderão ser observadas se alimentando em fases adultas nas flores plantadas para este fim e também se reproduzindo em diferentes plantas nativas. Este tipo de jardim tem potencial inclusive para prática mais profunda de ciência cidadã ou mesmo pesquisa científica. Entretanto, é preciso quebrar paradigmas para desejar um jardim assim, pois a ideia corrente é que, de modo geral, mato precisa ser roçado.

Na sequência veja diferentes espaços que um jardim de borboletas com objetivo de conservação pode comportar:


- Espaços de alimentação de adultos:

·     Com flores atrativas, preferencialmente de ocorrência local;

·     Com frutos ou compostos deles feitos;

·     Com sais, como nos areais úmidos onde são observados os panapanás, nos quais muitas borboletas se reúnem;

·     Com líquidos e fezes de aves e outros animais.

- Espaços de alimentação de fases jovens:

·     Com plantas hospedeiras de ocorrência no local, plantadas para este fim.


O planejamento em relação a presença de aves e outros animais é muito importante, pois a presença de suas fezes pode ser conveniente para complementação nutricional de borboletas adultas. Então é interessante conhecer previamente as espécies locais de aves, de outros animais e a natureza de suas interações com as borboletas. A partir deste conhecimento avalia-se a escolha de atrativos voltados para aquelas aves, ou aqueles animais, que não sejam predadores e ao mesmo tempo possam enriquecer o ambiente com suas fezes. 

Existem muitas formas de compatibilizar a estética com objetivos de conservação, que o planeta tanto precisa, já que nossas áreas naturais estão tão impactadas e continuam sendo reduzidas. Jardins concebidos para preservar parte da vegetação nativa não precisam, por isto, perder em estética, precisam sim de pensamentos inovadores, comprometimento com a proteção da natureza e criatividade. 

Às vezes, simplesmente administrar roçadas mais parcimoniosas em determinados locais pode fazer este papel. E quando pensamos em escala, muitos jardins neste perfil sendo providenciados pelas pessoas em suas casas, começamos a imaginar resultados surpreendentes para a conservação, que vão bem além das borboletas, avançando para proteção e, ou, recuperação de seus ambientes.

A criatividade e o objetivo de quem cria um jardim de borboletas é o que define sua beleza e seu papel potencial para conservação, que nosso planeta tanto precisa. 

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