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sábado, 5 de setembro de 2020

O drone do professor João

Foto: Maristela Zamoner. Obtida em campo. Blepolenis bassus. Direitos reservados.

Quando uma nova tecnologia é criada e tem potencial de beneficiar o meio ambiente e a sociedade, ou ser por ela preferida, as parcerias que dela virão a fim de garantir o acesso da população, precisam se estabelecer em relações livres de conflito de interesse. Esta independência é indispensável quando pretendemos que a sociedade tenha a oportunidade de exercer o direito de conhecer e decidir o que prefere em questões que envolvem novas tecnologias, evolução metodológica e conservação ambiental.

Para compreender o que isto significa vejamos o exemplo hipotético, meramente ilustrativo e ficcional que segue. 

Suponhamos que o João, um cabeleireiro e professor da área, tenha criado um drone de baixíssimo custo, pequeno, que pode ser adquirido por qualquer pessoa para cortar cabelos em casa, por tempo indefinido, conferindo autonomia ao cidadão que a quiser, conforme programação estética a gosto do usuário e ainda liberando oxigênio no ar durante seu funcionamento, contribuindo para o controle do efeito estufa. 

Neste mundo ficcional, as maiores autoridades em corte de cabelo estão nas escolas de cabeleireiros, nas sociedades de barbeiros e similares. São entidades que de alguma forma subsistem economicamente dependentes do ensino ou da reunião de pessoas que vivem da atividade de cortar cabelos. Logo, será conflituoso apoiarem uma nova tecnologia que reduza a necessidade de formar tantos cabeleireiros por dar autonomia ao cidadão para que realize por conta esta atividade, ao fazer uso livre de uma nova tecnologia que o torna independente. É natural compreender que estas pessoas podem se sentir ameaçadas pela nova tecnologia do professor João. Não é difícil imaginar que neste caso haverá uma boa possibilidade de fazerem o que está ao seu alcance, para desqualificar o produto e talvez até mesmo seu criador. E podem ter audiência das pessoas que creem na sua autoridade superior no assunto. Por isto, se o professor João quiser viabilizar para a sociedade o direito de escolher se quer ou não o benefício tecnológico que desenvolveu para o cidadão e para o meio ambiente, terá sucesso buscando parceiras nas pessoas que querem cortar seus cabelos com autonomia e contribuindo com o meio ambiente, e não nas maiores autoridades estabelecidas em corte de cabelo. 

Com isto dizemos que, neste caso hipotético, como em muitos outros não hipotéticos, as autoridades que estão na situação de alguma dependência financeira ou qualquer outra de algo que se pode demonstrar menos necessário, passam a ter sua opinião, sobre este algo, potencialmente suspeita por conflito de interesse. Neste caso, claramente as autoridades não estão em posição isenta para opinar sobre a nova tecnologia. Logo, não se encontram na plenitude do julgamento e nem do questionamento da tecnologia proposta pelo professor João. 

Por isto, o professor João terá que criar caminhos novos para que a sociedade e o meio ambiente recebam os benefícios de sua tecnologia, e isto precisará ocorrer independente das autoridades estabelecidas há séculos na área, que estão eticamente impedidas de se pronunciar de maneira isenta pelo conflito de interesses no qual estão imersas.

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